No começo deste mês, a igreja evangélica recebeu com
muita surpresa, pesar e assombro a notícia de que o pastor Júlio César,
ex-presidente da Assembleia de Deus Ministério Madureira, havia sido encontrado morto em sua casa, no Rio de Janeiro. O pastor cometeu suicídio, através do modus operandi enforcamento. A morte do
sacerdote comoveu milhares de evangélicos em todo o país, fazendo com que uma
triste realidade, antes escondida e
maquinada pela igreja [inclusive por pastores], viesse à tona: os nossos
pastores estão morrendo!
E, por que os nossos pastores estão quase à beira da
morte? Essa é uma pergunta que faz emergir uma infinidade de questões que
precisam ser melhores debatidas por todos aqueles que compõe a igreja, mas, humildemente,
procurarei neste post, relatar alguns fatores que têm desencadeado esse mal.
Primeiro, a falta de compreensão e senso de que o
membro tem responsabilidades para com o seu pastor. Muitas pessoas nas igrejas
estão acostumadas a reivindicar os compromissos que o pastor tem em relação à
comunidade que ele lidera, contudo, pouco ou nada se fala sobre o compromisso
que aquele membro precisa ter com o seu líder. Infelizmente, a igreja está
sendo impactada com uma grave crise de autoridade que assola a sociedade
pós-moderna. O homem moderno perdeu qualquer noção de obediência a indivíduos
legitimamente investidos em cargos de autoridade. Olhe para a família, por
exemplo, e você verá a desordem em que ela se encontra, porque não há mais noção
de autoridade. Filhos desobedientes a pais. Pais que não sabem usar a
autoridade que têm para educar os seus filhos. Essa realidade é também sentida
na igreja evangélica brasileira. Pessoas indispostas a obedecer aos seus
pastores porque não aprenderam a lidar com o conceito de autoridade. E, assim,
impõe resistência aos ensinos e às ordens dadas pelo seu líder. A Escritura é
clara ao afirmar que o crente dever se sujeitar ao seu pastor (I Pe 5:5). É
obvio que essa sujeição não deve ser cega, disposta a acolher ordens e ensinos
tolos, insensatos, injustos e equivocados dos pastores. Aqui, cabe destacar que
qualquer sacerdote é denunciável, ou seja, qualquer pessoa pode, com brandura,
expor as razões pelas quais levaram-na a não obedecer ao seu pastor, inclusive,
mostrando para ele quais os perigos de sua decisão ou ordem. No entanto, em
situações normais, a sujeição dos membros deve ser marcada com prontidão e reverência.
Sobre isso, a um texto na Bíblia que resume a situação apresentada:
Obedeçam
aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como
quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes para que o trabalho deles seja uma
alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês. (Hebreus
13:17)
O texto afirma que a
obediência dos crentes faz com que o
pastor realize o seu trabalho com alegria e não com gemidos (stenázo). Agora, quantos pastores não
estão desanimados, entristecidos, torturados, sem vigor algum, porque aquilo
que ele fala não é levado em consideração pelo membro? Afirmo a você, meu
querido irmão, que milhares de pastores estão frustrados e pensando em desistir
da igreja e até da sua vida por essa causa.
Em segundo lugar, quero
ressaltar a falta de consideração e de apreço dispensados aos líderes. A base
bíblica para esse ensino se encontra em I Tessalonicenses 5:12-13, que diz:
Agora
lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração para com os que se esforçam no
trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e os aconselham. Tenham-nos na
mais alta estima, com amor, por causa do trabalho deles. Vivam em paz uns com
os outros.
Nesse texto, o apóstolo
Paulo está dizendo que os cristãos não devem agir com descaso ou ser
indiferentes diante da figura do pastor. E essa estima não se deve ao carisma,
simpatia, inteligência ou qualquer outra característica física ou pessoal que o
pastor possa ter. Essa consideração deve-se, antes de tudo, ao trabalho desempenhado por ele. Ele tem o
ofício de conduzir vidas à salvação eterna. Ou seja, a sua tarefa é árdua e
marcada por muitas adversidades. Assim, a igreja precisa alimentar em suas
ações o sentimento de apreço, estima e consideração para com o seu pastor.
Infelizmente, não é essa a realidade de muitas igrejas por aí, que fazem o maior descaso não somente
com o líder, mas também, com a sua esposa e com os seus filhos. Isso tem gerado
um grave problema emocional em muitos pastores. Aqui, vale ressaltar, que muitos filhos de pastores, por vislumbrarem o sofrimento de seus pais, têm-se desviado dos caminhos do Senhor, alimentando em seu coração, a repulsa e o ódio pelo chamado de Deus para o ministério pastoral.
Terceiro, a igreja
precisa compreender e respeitar as particularidades e individualidades do seu
pastor. Pastor também é ser humano, e não super-herói, como muitos
enganosamente acreditam. Dessa forma, pastor também peca e comete erros. E,
assim como qualquer membro, ele precisa de ajuda e compreensão. Ele tem
carências como qualquer pessoa criada por Deus nesta terra. Muitas vezes, ele
precisa de uma palavra de ânimo e de um ombro amigo para assisti-lo. Não sei se
você sabe, mas pastor tem um dos ofícios mais solitários do mundo. Ele ajuda a
todos, mas não é auxiliado por quase ninguém, em momentos ruins. Ele chora
escondido porque tem medo e vergonha de expor fraqueza para a membresia e ser
mal compreendido até mesmo por seus colegas pastores. Nós precisamos repensar a
figura do líder na igreja e começar a enxergá-lo com um ser frágil, que
foi escolhido por Deus para uma missão nada fácil neste mundo corrompido pelo
pecado.
O quarto motivo é um
desdobramento do terceiro. Pastor também carece de momentos só dele e da sua
família. Há pessoas em muitas igrejas que acham que a casa do pastor e todos os
móveis e utensílios existentes na residência são também propriedade sua. Chegam
a hora que quer e fazem o que bem entendem. Assim, a casa do pastor tornou-se
metáfora para a casa da mãe Joana, onde todos podem fazer tudo o que quiserem.
Quando a igreja compreende as particularidades que o seu líder tem, ela
automaticamente respeitará a sua vida íntima, os seus anseios e as suas necessidades
particulares. Há muitas esposas de pastores que sofrem caladas porque não têm
mais liberdade em sua própria casa. Há muitos pastores depressivos, angustiados
e fadigados porque estão sendo vistos como uma máquina, um objeto, que precisam trabalhar, trabalhar e trabalhar, sem descansar um pouco. Precisamos mudar essa
mentalidade.
A quinta razão é que o
silêncio e a cumplicidade da maioria dos pastores têm contribuído para piorar o
problema. O suicídio do pastor Júlio César foi um grito de alerta para toda a
igreja evangélica de que as coisas não andam bem como a maioria diz. Que há um
câncer em seu estado inicial que precisa de tratamento, porque senão, o estágio
da doença pode evoluir para uma metástase e disseminar para todo o corpo,
levando-o à morte. Ou seja, precisamos discutir, repensar, refletir, ponderar e
mudar enquanto há tempo, caso contrário, estaremos fadados a conduzir os nossos
pastores para o matadouro. E essa postura precisa começar de nós, pastores, que
somos as principais vítimas de tudo isso.
Assim, chego à
conclusão, baseado nos fatos apresentados, de que a igreja evangélica no Brasil
vive um momento muito crítico na sua existência como representante de Cristo na
Terra, não somente pelo aumento de heresias e falsas doutrinas que se alastram
por esse país, mas também porque a igreja não tem valorizado os seus
verdadeiros pastores, os quais se preocupam com a salvação eterna de seus
membros. Ainda há tempo. Precisamos mudar, para evitar que mais um pastor morra
por conta própria [ aliás, por nossa culpa e negligência].
Comentários
Postar um comentário