A paz do Senhor a todos os leitores!
"Lâmpara para os meus pés é a tua Palavra" (Sl 119:105) |
Hoje, quero compartilhar com todos vocês o texto de um dos grandes teológos do século 20, Karl Barth, sobre a Bíblia. Ele escreve no livro A Palavra de Deus e A Palavra do Homem (Editora Cristã Novo Século, 2004), no capítulo 2, intitulado O Estranho Mundo Novo na Bíblia, uma das reflexões mais interessantes sobre os mandamentos de Deus que eu já li. Por isso, transcreverei ipsis litteris partes do capítulo do livro:
"O que há na Bíblia? História! A Bíblia de um notável e, até mesmo, único povo; a história de personalidades poderosas e mentalmente vigorosas: a história da cristandade em seu princípio: uma história de homens e ideias nas quais qualquer um que considere a si mesmo educado deve estar interessado, senão por outra razão, a de entender a causa de seus efeitos sobre os tempos subsequentes até o momento atual". (pg. 28)
"Agora alguém pode se contentar por um momento com esta resposta e achar nela muita verdade e possibilidades de beleza. A Bíblia está repleta de história; histórias religiosas, literárias, culturais, histórias do mundo e humanas de todo o tipo. Um quadro coberto de animação e cor é desencadeado diante de todos os que se aproximam da Bíblia com os olhos abertos" (pg. 28)
"Porém, este prazer tem vida curta: o quadro, em uma inspeção mais aproximada, prova-se inteiramente incompreensível e monótono, se for tomado apenas sob a ótica da história. O homem que está procurando pela história ou por histórias ficará contente após um pequeno passeio da Bíblia para o jornal ou para outros livros. Pois, quando nós estudamos história e nos divertimos com histórias, nós sempre estamos querendo conhecer: Como aconteceu tudo isto? Como é que um evento sucede ao outro? Quais são as causas naturais das coisas? Por que as pessoas disseram tais coisas e viveram daquela maneira? É justo que na maior parte dos pontos decisivos de sua história, a Bíblia não nos dê nenhuma resposta ao nosso Porquê. Isto não ocorre, na verdade, somente com a Bíblia, mas com todos os homens e eventos decisivos da história. Quanto maior for uma crise, tanto menos obteremos uma resposta para o nosso Porquê insquistivo. E vice-versa: quanto menos significante for um homem ou uma era mais os "historiadores" buscam explicar e estabelecer. Contudo, a Bíblia encontra o amante da história com um silêncio completamente sem paralelos". (pgs. 28 e 29)
"(...) A Bíblia por si, em qualquer caso, responde ao nosso ávido: "Por que" não como uma esfinge, mas com "Houve uma razão!", nem como um advogado, com milhares de argumentos, deduções e paralelos, mas nos diz: a causa decisiva é Deus. Porque Deus vive, fala e age, houve uma razão...! Tenha certeza de que quando nós ouvimos a palavra de "Deus" ela pode parecer, à primeira vista, o mesmo que: Houve uma razão!". (pg. 29)
"A questão suprema é se nós temos entendimento para este diferente novo mundo, ou temos boa vontade suficiente para mediar e deixá-lo entrar no coração. Nós desejamos a presença de "Deus"? Acaso nós cuidamos de ir para onde evidentemente estamos sendo guiados? Que fosse a "fé"! Este novo mundo projeta-nos para o nosso velho mundo comum. Nós podemos rejeitá-lo. Podemos dizer: este "Deus" não é nada; é imaginação, é locura. Contudo, nós não podemos negar nem impedir de sermos guiados pela "história" da Bíblia que está longe de ser o que é comumente chamado história: dentro de um novo mundo, dentro do mundo de Deus". (pg. 30)
"(...) Ela é uma coleção de ensinamentos e ilustrações da virtude e grandeza humanas. Ninguém jamais questionou seriamente o fato de que, a seu modo, os homens da Bíblia eram bons exemplos, com os quais temos uma quantidade infinita a aprender. Se nós procuramos por sabedoria, prática ou exemplos elevados de um certo tipo de heroísmo, nós os encontraremos ali seguidamente". (pg. 30)
Finalizo a mensagem citando ainda um pensamento de Barth, que diz:"Uma vez mais, nós ficamos diante deste "outro" novo mundo que começa na Bíblia. Nela a principal consideração não é o feito humano, mas os feitos de Deus - não os vários caminhos que nós podemos tomar, se nós somos homens de boa vontade, mas o poder, fora do qual, a boa vontade deve primeiro ser criada - não o desdobrar e a fruição do amar, como nós podemos entendê-las, mas a existência e a efusão do amor eterno, do amor como é entendido por Deus - não a indústria, a honestidade e a ajuda comum, mas o estalecimento e desenvolvimento de um novo mundo, o mundo no qual Deus e Sua moralidade reinam".
"Não é o correto pensamento humano sobre Deus que forma o conteúdo da Bíblia, mas o correto pensamento divino sobre os homens". (pg. 34)
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